5 de janeiro de 2016

Há coisas mais importantes que a economia. Ou: por que eu não sou libertário.

Na condição de membro dum movimento artístico, não tem como eu colocar meu posicionamento quanto ao embate existente entre libertários e conservadores, principalmente em coisas que tangem inevitavelmente a área cultural.

Querendo ou não, os libertários dominam bastante a área econômica, o que fez gente como Dâniel Fraga adquirir um repentino sucesso no Youtube com suas boas explicações no assunto. Porém, foi só este dito cujo começar a entrar em outros meandros para que este mostrasse a verdadeira face do libertarianismo, defendendo coisas como a venda de órgãos e até mesmo a exploração imoral feita pelo pai da MC Melody, tudo em nome da economia.

E o que isso tem a ver diretamente com a arte e com os artistas? Bem, para ilustrar este artigo eu coloquei a foto de Veneza, cidade que é considerada patrimônio da humanidade e fonte de inspiração para uma série interminável de artistas em razão de sua beleza. Pois bem, imagina se aparece algum bilionário louco querendo comprar a cidade, aterrar os rios e derrubar os edifícios, tudo pra resumi-la em arranha-céus de 100 andares e complexos industriais. Em nome da economia, um libertário não seria capaz de ver imoralidade na ideia bizarra, mas um conservador certamente sabe qual dano pra humanidade isto seria caso fosse levado a cabo.

Parece até coisa de maluco essa historinha hipotética, mas quem conhece tudo o que ocorreu com as irreparáveis perdas do patrimônio histórico de Belém do Pará, cidade em que nasci, nos coloca sob uma triste realidade. A "Casa do pão" perdeu uma estrada de ferro, o Grand Hotel, a Fábrica Palmeira, a Doca do Reduto virou um negócio sem graça, fora prédios mais do que centenários sofrendo incêndios misteriosos (e muito dificilmente seus escombros não darão lugar a um espigão de aparência destoante das edificações vizinhas). Todas essas perdas passaram a ser rotina a partir do regime militar, que ao contrário do discurso de alguns, agiu de maneira totalmente liberal no tocante ao patrimônio histórico da cidade, tudo em nome do "pogreço", e digno de aplausos dos libertários.

Enfim, quando este tipo de discussão chega ao ponto de chancelar, em nome do "pogreço", a destruição de algo positivo construído e preservado com sangue, suor e lágrimas pela sociedade, não há como eu aplaudir ou permitir este tipo de coisa.


Fonte da imagem:
https://www.cia.gov/library/publications/the-world-factbook/photo_gallery/it/images/large/IT_075_large.jpg

Nenhum comentário:

Postar um comentário