1 de fevereiro de 2016

Todo estadista tem a cultura que merece, ou: porque Reinaldo não tem razão ao falar de FHC

Fonte: Buzzfeed

Em meu blog, comentei a infeliz entrevista dada por Reinaldo Azevedo ao programa Mariana Godoy entrevista, rebatendo algumas das maiores pérolas soltadas pelo dito cujo. Não bastou falar mal de Jair Bolsonaro, Olavo de Carvalho, dizer que lutou "por democracia" militando em partidos radicais de esquerda, o Chico Buarque às avessas nos brindou com uma frase que, queira D'us, lhe perseguirá pelo resto de sua reles vida: "FHC foi o maior estadista que o Brasil já teve". Se dissesse apenas isso nos pouparia do trabalho de ouvir todo o resto.
Mas a pergunta que fica é a seguinte: como esse sujeito foi o maior estadista da história do Brasil? Será que ele nunca pesquisou com calma o período imperial brasileiro, em que tivemos o prazer de ser súditos de D. Pedro I e D. Pedro II. Respectivamente, um garantiu a integridade nacional e deu a constituição mais longeva do país e uma das mais estáveis do mundo moderno, e pro outro é covardia descrevê-lo em uma linha.
D. Pedro II parou em pleno alvorecer da adolescência uma onda de insurreições que ameaçavam a integridade nacional conquistada com tanto trabalho pelo seu pai, transformou o império tropical num gigante diplomático, fazendo a toda-poderosa Inglaterra reduzir-se à sua insignificância na "Questão Christie". Falando em Inglaterra, só ela superava o Brasil em termos de Marinha de Guerra.
E pra concluir, o Brasil viveu praticamente o seu apogeu intelectual no Segundo Reinado, com uma elite literária de causar inveja nos gringos, negros e mulatos como o engenheiro André Rebouças e Machado de Assis (aquele que fundou, já na República, a Academia Brasileira de Letras!) obtendo posições de destaque na sociedade quase que 100 anos antes de isso ocorrer nos Estados Unidos da América. Em termos de música, o comando estava nas mãos de Carlos Gomes.
Enfim, é uma covardia comparar o Segundo Reinado com o mandato de Fernando Henrique Cardoso, eleito graças a um plano que não criou, que realmente trouxe um sopro de prosperidade e colocou muita gente na sociedade de consumo (palavras do produtor Arnaldo Saccomani), mas o que o padrinho da "Quebrando o Bumbum" fez pra que esse punch econômico pudesse se traduzir em ganho cultural, hein? Podemos dizer que a trilha do governo FHC foi, impulsionada pelo Plano Real, a Axé Music que tomou de assalto as rádios brasileiras e lavou a égua em carnavais fora de época país afora, as trilhas de fundo de rebolamentos na boquinha da garrafa repetidos ad nauseam nos programas de Domingo, os pagodes mela-cueca, o Funk Carioca que estabeleceu modelos mais extremos de tortura em forma de música, e tudo de horrível que se pode imaginar.
Quem é no mínimo analfabeto funcional no assunto cultura, entende os danos que toda essa enxurrada de lixo empestando as rádios brasileiras trouxe para a cabeça do brasileiro. Portanto, aquele que o "Tio Rei" chama de "melhor estadista brasileiro de todos os tempos" no mínimo deixou que fosse plantada a semente maligna do retardo mental que criou o "país dos petralhas", conseguindo dar dois mandatos para Lula e ainda por cima eleger um poste chamado Dilma Rousseff.

Nenhum comentário:

Postar um comentário